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Um novo estudo publicado na Revista Pesquisa em Saúde chama atenção para a gravidade da sepse como causa de internação em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) no Brasil. Realizada no Hospital Universitário da Universidade Federal do Maranhão (HU-UFMA), a pesquisa analisou os perfis clínicos e os desfechos de pacientes admitidos com sepse ou choque séptico, apontando taxas elevadas de mortalidade hospitalar e uma maior necessidade de suporte intensivo.

O artigo é resultado do trabalho de conclusão do curso de medicina da UFMA de Carim Miguel Choairy Terceiro, com coautoria de Ana Paula Pierre de Moraes, Marko Antônio Freitas Santos e Maria dos Remédios Freitas Carvalho Branco, médica infectologista.

A sepse ocorre quando uma infecção provoca uma reação descontrolada do organismo, capaz de comprometer múltiplos órgãos. É considerada uma emergência médica e está entre as principais causas de óbito hospitalar no Brasil — cenário que se agrava diante da identificação tardia e da dificuldade de acesso a leitos de terapia intensiva.

O estudo buscou compreender o perfil clínico dos pacientes internados com sepse ou choque séptico, comparando esses casos às demais causas clínicas de internação na UTI. 

Entre os 241 pacientes com admissões clínicas analisados, 43 apresentavam diagnóstico de sepse ou choque séptico no momento da entrada na unidade. Esses pacientes chegaram em estado mais grave, com escores clínicos que indicam maior risco de complicações e morte.

Dois desses escores — o SAPS 3, que avalia a gravidade geral do quadro clínico, e o SOFA, que mede a extensão da falência de órgãos — estavam significativamente mais altos no grupo com sepse. Durante a internação, foi mais frequente entre esses pacientes a necessidade de ventilação mecânica, uso de medicações vasoativas para estabilização da pressão arterial e terapia de substituição renal — procedimentos intensivos que refletem o estado crítico desses quadros.

As principais infecções identificadas tiveram origem nos pulmões (28%) e no abdômen (21%), seguidas por infecções na corrente sanguínea, trato urinário e pele.

A mortalidade hospitalar entre os pacientes com sepse foi de 53%, número elevado, mas semelhante ao observado em grandes estudos nacionais. 

O estudo SPREAD, conduzido com mais de 2.600 pacientes em 227 UTIs brasileiras, encontrou uma taxa de mortalidade hospitalar de 55,7% entre os pacientes com sepse (Machado et al., 2017). Já o Sepse Brasil, publicado em 2006, documentou uma mortalidade de 47,3% em cinco hospitais de referência no país (Sales Jr. et al., 2006).

Esses achados reforçam a urgência de medidas que envolvam desde a triagem até o cuidado intensivo especializado.

“Na minha longa carreira como professora e infectologista, sepse foi tema de aulas e atendimentos, e mais, recentemente, objeto de pesquisa. Este estudo mostra o impacto dessa condição em nossa realidade hospitalar e reforça a importância do diagnóstico precoce e do encaminhamento oportuno para a UTI”, afirma Maria dos Remédios Freitas Carvalho Branco.

Os resultados do estudo oferecem subsídios importantes para a atualização de protocolos clínicos e reforçam a necessidade de capacitação contínua das equipes de saúde. 

Em um cenário de alta mortalidade e complexidade assistencial, produzir dados locais e integrá-los ao debate científico nacional é essencial para o fortalecimento do SUS e da prática médica baseada em evidências.  A produção de conhecimento científico é fundamental para melhorar o atendimento nas UTIs e reduzir as diferenças no acesso à saúde.


📄 Sobre o artigo

Título: Sepse e choque séptico como razão de internação – características e mortalidade
Publicado em: Revista Pesquisa em Saúde, vol. 25, n. 2 (jul-dez 2024)
Autores: Carim Miguel Choairy Terceiro, Ana Paula Pierre de Moraes, Marko Antônio Freitas Santos e Maria dos Remédios Freitas Carvalho Branco
Acesso completo: Acesse neste link

Referências

The epidemiology of sepsis in Brazilian intensive care units (the Sepsis PREvalence Assessment Database, SPREAD): an observational study. Machado, et al. The Lancet Infectious Diseases, Volume 17, Issue 11, 1180 – 1189. Disponível em Lancet.

Júnior, JALS, Cid Marcos David, Rodrigo Hatum, PCSP Souza, André Japiassú, Cleovaldo TS Pinheiro, Gilberto Friedman, Odin Barbosa da Silva, Mariza D’Agostino Dias, e Edwin Koterba10. “Sepse Brasil: estudo epidemiológico da sepse em unidades de terapia intensiva brasileiras”. Rev Bras Ter Intensiva 18, nº 1 (2006): 9–17. Disponível em Scielo.

Maíra Carvalho

Estrategista de Comunicação Digital. Idealizadora e gestora de conteúdo do site da Dra. Maria dos Remédios — do design à estratégia digital, passando por SEO, conteúdo e redes sociais.

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