Considerando a importância de informações de confiança numa pandemia e a necessidade da democratização e da popularização do conhecimento, em 23 de março de 2020, publiquei um site (https://mariadosremedios.com.br/) com minhas entrevistas sobre COVID-19 em canais de TV e de rádio, vídeos e outras informações que pudessem ser úteis às pessoas.
O alcance de audiência dos canais locais de TV e, especialmente, do rádio, é muito importante na região Amazônica devido às dificuldades de acesso à internet e à TV.
Adicionalmente, disponibilizei um canal no YouTube, um perfil no Instagram e um e-mail para esclarecer dúvidas. Passei a colocar os links para as lides que participava nas redes sociais. Quando era convidada para participar de um evento online ao vivo, disparava o convite para meus contatos no WhatsApp, cerca de 1250 pessoas.
A iniciativa foi muito bem aceita e avaliada, inclusive premiada em 2020 e novamente em 2021, como descrito, a seguir, no capítulo Homenagens e prêmios.
Ao longo de dois anos dessa experiência, percebe-se que eu passei a ser a principal referência local como médica infectologista, respeitada e de confiança da população. Tratando de temas em discussão, como por exemplo, a suspensão da vacinação contra COVID-19 de adolescentes; e analisando e explicando artigos científicos, publicados em revistas especializadas, que sejam de interesse da população em geral. A maioria desses textos, além do conteúdo e linguagem técnicos, são publicados em inglês.
É possível contribuir para a democratização do conhecimento no país, informando a população geral de maneira objetiva, didática e regular. Este esforço é essencial para refletirmos sobre as lições dessa pandemia e para termos subsídios para a prevenção e o enfrentamento de outras pandemias no futuro.
Descrição do trabalho
Na segunda quinzena de março de 2020, a COVID-19 chegava ao Brasil e, com ela, aprofundava-se o esforço midiático e de educação em saúde para informar a população sobre o vírus, suas características e como se prevenir. Por ser um vírus novo, um outro desafio também se apresentava: comunicar de maneira objetiva e acessível a produção de conhecimento científico e os avanços em pesquisa, identificando pessoas confiáveis e quais as informações disponíveis.
Por minha atuação como médica infectologista, pesquisadora e professora universitária da UFMA, eu me posicionei como potencial autoridade naquele momento. Fui chamada para dezenas de entrevistas por diversas emissoras de televisão e rádio do estado do Maranhão, além de ser abordada por muitas pessoas com dúvidas e inseguranças que se repetiam.
Sabendo que a pandemia da COVID-19 precisava não somente de políticas públicas, mas também do esforço coordenado e informado da população para enfrentá-la – respeitando o distanciamento social, evitando aglomerações, usando corretamente máscaras e higienizando as mãos, dentre outras iniciativas –, num cenário de desinformação generalizada e de fake news, o desafio de fornecer informações de qualidade, embasadas cientificamente, estava posto.
Conjuntamente com minha filha, Maíra Carvalho Branco Ribeiro, comunicadora digital e desenvolvedora de sites, percebi que era necessário um esforço de compilação, indexação e organização do que comunicava. Assim, poderia disponibilizar um material de referência para o público, respondendo dúvidas comuns, pautando questões relevantes para pessoas em situação de vulnerabilidade social, e explicando conceitos científicos de maneira simples e fácil de entender. Tivemos também a ajuda voluntária de Eduardo Arake, videomaker, a quem sou muito grata.
Surgia, assim, o site mariadosremedios.com.br/coronavirus, um hub de informações atualizado com frequência com entrevistas em áudio e vídeo, divulgação de iniciativas de pesquisa e educação em saúde, e protocolos médicos que pudessem servir de referência.
Com um sistema de busca indexado, que permite que as pessoas encontrem, diretamente, o conteúdo que lhes interessa, foram publicados 120 artigos em 2020, numa produção de conteúdo própria e indexação de entrevistas concedidas a diversos meios de comunicação.
Dos principais canais televisivos no estado a rádios populares com expressiva penetração no interior e em comunidades indígenas, as entrevistas indexadas no site atingiram centenas de milhares de pessoas ao longo de 2020.
Todos os aspectos do conteúdo – dos títulos e descrições das páginas, textos complementares aos vídeos, dentre outros – foram construídos da maneira mais acessível possível, usando dos termos e construções frasais do debate público. Além de tornar o texto de fácil compreensão. Isto fez parte da estratégia de otimização para mecanismos de busca (SEO), com objetivo de chegar a mais pessoas.
Concomitantemente, foi criado o canal no Youtube com meu nome, focado na população geral, que respondia perguntas como: porque é necessário evitar aglomerações; vacinas contra o coronavírus: o que você precisa saber e é eficaz lavar as mãos sem água encanada? Além de questionamentos sobre a falta de diretrizes para a população mais vulnerabilizada.
Divulgado através de disparos no WhatsApp e boca-a-boca, a iniciativa foi muito bem recebida, com mais de 22.000 acessos e 10.000 visitantes no site e 3.600 visualizações no Youtube, num total de 166 horas de conteúdo assistido, todos no primeiro mês da iniciativa.
Para além das publicações no site e no Youtube, concedi entrevistas; fiz palestras; participei de lives e de programas de TV e de rádio; gravei vídeos e áudios para a mídia, totalizando 158, em 2020, e 208, em 2021.
Desenvolvi o Protocolo Sanitário para as escolas particulares, filiadas ao Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino no Estado do Maranhão (SINEPE/MA), em 2020, atualizado em 2021 e em 2022. O pioneirismo no país das escolas da rede privada do Maranhão de reiniciarem as aulas em formato híbrido (presencial e remoto), em agosto de 2020, seguindo um protocolo sanitário, garantiu esse retorno com segurança.
Muito tem se lamentado que as escolas públicas brasileiras tenham permanecido fechadas durante dois anos. Fato que teve várias consequências nocivas como evasão escolar e baixa aprendizagem. Além da escola possuir um papel de proteção social, inclusive sobre a insegurança alimentar. Em um país com enorme desigualdade social, o acesso à educação é essencial para a mobilidade social ascendente.
A exclusão digital é um problema que afeta grande parte da população brasileira. O acesso à internet é de baixa qualidade e limitado à capacidade de compra do serviço pela população pobre. Muitas famílias têm apenas um aparelho eletrônico, em geral, um celular, compartilhado por vários membros da família. Assim, muitas vezes, uma mãe era obrigada a escolher qual dos filhos iria assistir aula online. Mesmo entre os estudantes universitários de instituições públicas ou privadas, as aulas eram assistidas pelo aparelho celular.
No caso da disciplina de Doenças Infecciosas e Parasitárias que eu leciono para os alunos do sétimo período do curso de Medicina da UFMA, nós retomamos as aulas práticas presenciais em ambulatórios e hospitais, no segundo semestre de 2021. Todas as professoras já tinham recebido três doses da vacina contra COVID-19 e os alunos, pelo menos, duas.
A criação do site repercutiu no portal da UFMA, na TV Difusora, na página do Jornal do Estado do Maranhão e no site Agenda Maranhão.
O reconhecimento pelo trabalho levou à minha participação em uma live com o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, e os médicos, Drauzio Varela e Henrique Mandetta – ex-ministro da Saúde, em 11 de julho de 2020. Em 18 de novembro de 2020, participei como conferencista do XXIII Congresso Internacional de Direito Constitucional. Sistema Único de Saúde e Federalismo Cooperativo. 2020.
O maior impacto do site foi em 2020. A partir de 2021 tivemos mais dificuldades para atualizá-lo, já que não temos financiamento. Por outro lado, houve aumento das minhas participações em entrevistas, palestras, lives, programas de TV e de rádio, gravações de vídeos e áudios para a mídia, totalizando 158, em 2020, e 208, em 2021, como já disse anteriormente. Sigo recebendo convites para dar palestras para escolas, órgãos públicos e o público geral, além das entrevistas, vídeos e podcasts solicitados pela imprensa.
Concluindo, durante a pandemia de COVID-19, como já descrito, eu tive um papel social muito importante, o que levou ao reconhecimento não só do meu papel como médica infectologista, professora e pesquisadora, mas, também, da UFMA como instituição de ensino e pesquisa.
A minha atuação ganhou mais relevância devido à ausência de política de comunicação nas três esferas públicas de poder: municipal, estadual e federal. Nas últimas décadas, no Brasil, a comunicação tem sido usada, de forma personalista, para promover os gestores – políticos, deixando vazios nas políticas públicas de comunicação em educação e saúde.
Vários professores da UFMA tiveram contribuição relevante na pandemia não só na área de pesquisa, mas na comunicação social, com protagonismo nacional, a exemplo do professor Antônio Augusto Moura da Silva.